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domingo, 22 de julho de 2012

A morena que calou o malandro



 
Amigos,
Este é meu primeiro cordel editado pelo PROJETO CESC CORDEL, de Juazeiro do Norte que tem patrocinado e divulgado a cultura popular como ninguém.
Devo minha participação a poeta cordelista Josenir Lacerda, referência em Literatura de cordel que não mediu esforços para que tudo se concretizasse da melhor maneira possível.

A MORENA QUE CALOU O MALANDRO                    
*
01
Vou contar uma história
Preste atenção, por favor,
Sobre um sujeito malandro
E muito paquerador
Era Don Juan famoso
Elegante bem charmoso
Metido a conquistador.
02
Toda mulher que ele via,
Corria para cantar,
Dizia paro os amigos:
Mais uma vou conquistar!
E tinha mesmo razão
Pois provocava paixão
Era cantar e ganhar.
03
Seu reinado durou muito
Ate que se apaixonou
Por uma linda morena
Que o malandro enfeitiçou
Ele fez o que podia
Fez até feitiçaria
Mas a gata não ganhou.
04
E dizem que fez promessa
Pra pagar no Juazeiro,
Porém a de São Francisco
Ele foi pagar primeiro.
Fez o percurso a pé
Pra pedir em Canindé
Esta graça ao padroeiro.
05
Foi na igreja de crente,
Foi na macumba também,
Porém nada da morena
Para ele dizer amém.
Aquele que só sorria,
Agora se maldizia
Por não conquistar seu bem.
06
Foi então que resolveu
A tal morena encarar,
Só faltou uma viola
Para o cabra acompanhar.
E feito o dono do mundo
Ele respirou bem fundo,
Querendo desafiar.
07
Passou a mão nos cabelos,
Foi alisando o bigode.
Ajeitou o colarinho
E como quem tudo pode,
Foi procurar a trigueira,
Aquela deusa brejeira
Princesa de sua ode.
08
Com andar cadenciado
Com jeito de gostosão,
Deu umas passadas rápidas
Mostrando disposição
E como quem nada quer,
Encarou a tal mulher,
Que ganhou seu coração.
09
Ela encarou o Don Juan,
E sua língua não parava.
E tudo que ele dizia
Ela logo retrucava,
Foi bem longa esta peleja
Eu quero que você veja
Como a moça contestava.
 
10
Assim se deu o combate
Não foi brincadeira, não!
O conquistador Barato
Fez sua declaração.
E a morena não perdia,
Pois na bucha respondia,
Confira a confrontação:
11C
Morena, minha morena,
Do cabelo cacheado.
Por ti eu sinto paixão,
Mata-me teu rebolado
Que dizes deste sujeito
Que pode não ser perfeito,
Mas quer ser teu namorado.
12-M
Você é pipa avoada,
Querendo a imensidão.
Passarinho de gaiola,
Nunca foi sua vocação.
Você é apenas petisco
Que se quiser eu belisco,
Mas sem grande pretensão.
13-C
Pois tu és a minha amada
É só teu meu coração.
Desde o dia que te vi,
Fiquei doido de paixão
Se quiser casar comigo
Não vai correr o perigo
De morrer na solidão.
14-M
Você colibri galante,
Que gosta de voejar.
E vive de flor em flor
O seu destino é beijar.
É tal qual ave migrante
Arriba feito avoante,
Não queira me aliciar.
15-C
Casa e comida garanto,
Roupa lavada também.
Deixarei a boemia,
Ainda posso ir além.
Deixarei a tal bebida
Se tu ó minha querida
Resolver ser o meu bem.
16-M
Eu não sou flor que se cheire,
Por isso, preste atenção:
Eu sou flor, porém agreste,
Das caatingas do sertão.
Sem querer uma querela!
A beija-flor não dou trela
Nem dou o meu coração.
17-C
Desde que senti teu cheiro,
Mimosa flor do sertão,
Tornei-me um prisioneiro
Um escravo da paixão
Falo com sinceridade
Desisto da liberdade,
Só pra ter teu coração.
18-M
Homem o meu coração,
É difícil de ganhar.
Se alguém já conseguiu,
Esqueceu de me avisar.
Tome tino se oriente
E saia da minha frente,
Pois não vai me conquistar
19-C
Tu só te faz de difícil,
Para te valorizar,
Mas eu tenho paciência,
Na raça vou te ganhar.
Pois sei que toda mulher,
O que realmente quer,
É no fundo se casar.
20-M
Foi-se o tempo que mulher,
Sonhava com casamento.
Desde a carta de alforria
Já tem novo pensamento.
Agora ela vai à luta,
Encara bem a labuta,
É fraco seu argumento.
21-C
Pois tu vais te arrepender,
De perder este sujeito,
Que te traz no coração,
Com carinho e com respeito
Confesso estou mudado,
Esqueça já meu passado,
Modifique teu conceito.
22-M
Meu amigo esta conversa,
Rendeu mais do que devia,
Este eterno resmungado,
Tá me dando é agonia,
Estou pensando direito,
Não vou mudar meu conceito,
Nem pela virgem Maria!
23-C
E se eu cair na bebida,
E de tristeza morrer
A culpa vai ser só tua
Que me botou pra correr.
Tu não tem nem piedade,
Vai me deixar na saudade,
Mas nada posso fazer.
24-M
Lamento seu desatino,
Porém corda não lhe dei.
Amor não é brincadeira,
Por isso lhe reneguei.
Amor pra mim é sagrado
Meu coração tá guardado,
Pra quem souber ser meu rei.
25-C
Mas tu já és soberana
Em toda situação.
Rainha da minha vida,
Ó minha flor do sertão.
Não sou tão aventureiro
Hoje estou em teu terreiro,
Querendo tua compaixão.
26-M
Chega de papo furado,
E de prosa sem futuro.
Homem de conversa mole,
Realmente não aturo.
Você é caso perdido
Não serve para marido,
Pois vive deixando furo.
27-C
O mundo da muitas voltas,
E eu aqui vou te esperar.
Vou à luta e não desisto.
Garanto não vou cansar.
Adeus, até outra hora,
O que não ganhei agora,
Mais tarde vou te cobrar.
28-M
Adeus projeto de gente,
Projeto de cantador.
Não sabe cantar mulher,
E nem é bom perdedor,
Não passe na minha porta
Pois você é carga torta,
Descarado e sem pudor.
29-C
Adeus minha flor do agreste,
Que nasce em cansanção.
Ó flor do mandacaru,
Que só me dá comichão.
Pois sendo tão maltratado,
Covardemente chutado,
Não volto mais aqui não.
30-M
Vai mala velha sem alça,
Vai jumento batizado,
Teu lugar lá no inferno,
O cão já tem reservado.
E some da minha vida,
Porque só mulher perdida,
É quem fica do seu lado.
31-
Nesta contenda arriscada
Nesse combate fatal
O cantador de mulher
Acabou se dando mal
E perdeu esta disputa
A certeza absoluta
Ele teve no final.
32
A mulher hoje é esperta
Aprendeu a ser astuta
Sabe se posicionar
Adotou nova conduta
Dentro da sociedade
Vive nova realidade
Aguerrida é sua luta.

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